Quando eu me mudei do Rio para São Paulo, percebi que aqui também existe um grande saudosismo com o padrão do piso dos calçadões, transpondo as ruas e espalhando-se por toda parte: na arte, na decoração e na arquitetura; um patrimônio cultural, assim como o de Copacabana.
Pois bem, o "piso paulista" (como é conhecida a criação de 1965 da arquiteta Mirthes Bernardes para um concurso cultural), o calçadão de Copa e a obra do gênio Escher me inspiraram a criar este quadro autobiográfico que marca a minha transição entre as duas cidades - até agora - as mais importantes da minha vida, as quais chamo de lar e que me acolhem com tanto carinho.
É algo bastante pessoal e que não é de costume meu compartilhar como "projeto desenvolvido", assim como texto que segue, criado na mesma época, mas achei pertinente que eles entrassem no meu acervo do Behance.
Foi feito com amor, respeito e gratidão. Espero que gostem.
Eu sou aquele nada entre o que eu fui e o que quero me tornar.
É a partir dessa amorfia que modelo meu futuro: o que começou na curva da orla
e na organicidade da onda, aos poucos ganha traços mais retos e se torna edifício.
Aqui, o elipse está nas rodas dos carros, nos semáforos e no sol,
que mesmo sem óculos podemos ver por de trás da fumaça.
Aqui, diz-se ser solitário, impessoal e frio. Mas como encontrar o próprio
calor quando tudo é praia? Quando fazer a dor dançar se não ferir-se?
Pois bem, abra as janelas e deixa luzir; abre o peito e deixa
sentir; reduz ao pó e deixa devir.
