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Crítica - Visages, Villages de Agnès Varda

A Memória e o Esquecimento por Agnes Varda
O documentário de Agnes Varda e JR (Jean Rene), “Visages, Villages” foi um dos últimos dos filmes de Agnes Varda, e traz uma abordagem sobre memória, resgate e esquecimento. O filme é um road movie que mostra a viagem dos cineastas pelo interior da França, conhecendo histórias, pessoas, fotografando e colando os registros nas paredes dos locais onde passam. 

“Cada rosto tem uma história”, diz Varda em certo momento do documentário. Ela, ao lado de JR, se propõe à percorrer o interior da França em busca desses rostos, para escutar o que essas pessoas tem a dizer; pessoas comuns que precisam ter suas memórias revistas, recontadas. O filme preza pela leveza e simplicidade, as histórias são emotivas, mas sem dramas maiores, são engraçadas mas sem nenhuma gargalhada. 

O resgate da memória é uma temática presente no filme. Sempre que passam nas cidades as pessoas param para contar suas histórias; quando colocam as fotos nas paredes as pessoas resgatam aquilo que não lembravam mais. O reconhecimento perante as fotos traz memórias que passariam despercebido. 
Outro aspecto temático do filme é a efemeridade das memórias e o esquecimento. Umas das fotografadas é Jeanine, a última moradora de uma rua que foi desapropriada e está prestes a ser destruída. Ela se recusa a sair de sua casa por conta das memórias que aquele espaço carrega. O medo de sair está vinculado ao medo de esquecer. A fotografia de Guy Bourdin colada em um bunquer na praia também é um exemplo sobre o tema da efemeridade. A foto é colada e no outro dia não dia não existe mais nada, mostrando que tudo passa, que no final, como a própria Varda fala no filme, tudo desaparece. 

Narrativamente o filme desconstrói a ideia do que seria um documentário mais tradicional, assim brinca com o gênero, mesclando ficção com realidade, mesmo que Varda afirme que goste do acaso, nem tudo que está no documentário apareceu como mero acaso. Os principais momentos que existem essa subversão são nos diálogos entre Varda e JR, as cenas que eles estão sentados à mesa discutindo sobre o andamento do filme, e a sequência final após a tentativa frustrada de visitar Godard, são claramente encenadas, como atores em um filme de ficção, as falas estão prontas no roteiro. Além disso, a cena inicial que mostra como eles (não) se conheceram, também é ficticiamente encenada. 

Vissages, Villagens é sobre a importância de lembrar, de resgatar memórias e preservar histórias. O filme também discursa sobre a proximidade dos fins, esquecer e entender que é natural que as coisas desapareçam. É um filme que aponta caminhos narrativos não tradicionais para o documentário, mostra e questiona como contar e escutar histórias de maneiras não convencionais.
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