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A criação dos animais

Em tempos imemoriais, um grande dilúvio cobriu toda a terra. Somente o cume da Serra de Krinjinjimbé se sobressaía das águas diluviais. Índios de diversas tribos nadavam em direção desse limitado pedaço de terra. Os Kaiurucré e os Kampe se cansaram de nadar, afundaram e morreram, suas almas indo habitar o interior da montanha.
Os Kaingang e uns poucos Curutons conseguiram alcançar a terra. Alguns permaneceram no chão, outros se refugiaram em árvores por que não encontraram mais lugar. Estavam prontos para morrer quando ouviram o canto das saracuras, que traziam pequenos cestinhos de terra e o depositavam sobre as águas, que começaram a recuar lentamente. Os Kaingang pediram as saracuras que se apressassem, e essas chamaram pela ajuda dos patos. Logo, as aves conseguiram formar uma planície espaçosa, que dava espaço suficiente para os Kaingang, com exceção daqueles que se refugiaram nas árvores. Esses se transformaram em macacos, e os Curutons em macacos urradores. Terminada a grande inundação, os Kaingang se estabeleceram nas proximidades da Serra do Mar.
Do interior da montanha, as almas dos Kamé e dos Kaiurucré abriram caminho e saíram, criando nascentes de rios. Na noite em que saíram da montanha, acenderam fogo e Kaiurucré, usando cinzas e carvão, deu forma as onças e lhes disse que saíssem a caça de homens e animais. Não havendo mais carvão para pintar, fez de cinzas as antas e as ordenou que caçassem. As antas, não tendo ouvido a ordem corretamente, perguntaram o que deveriam fazer. Kaiurucré, que já estava ocupado criando outro animal, disse-lhes que se alimentassem de plantas e raízes. Quando o sol estava para nascer, Kaiurucré ainda não tinha terminado sua nova criação, faltando lhes colocar os dentes, a língua e as garras. Com suas forças diminuindo por causa da luz do sol, deu-lhes uma vara na boca e disse que se alimentassem de formigas.
Por isso os tamanduás são animais inacabados e imperfeitos.
Em outras noites, Kaiurucré fez diversos outros animais, incluindo as abelhas.
Kamé, por outro lado, fazia seus próprios animais para que combatessem as criaturas de Kaiurucré. Fez os leões, as cobras venenosas e as vespas. Terminando seu trabalho, ambos se uniram e foram se juntar aos Kaingang. Kaiurucré percebeu que as onças eram muito ferozes e devoravam muita gente. Atirou-as a um rio profundo para que se afogassem. As onças urraram e mostraram seus dentes, e Kaiurucré, com medo, deixou que voltassem à terra. Por isso elas podem viver tanto na água quanto na terra.
Ao chegarem nas planícies próximas da Serra do Mar, os povos se uniram e casaram seus filhos
entre si. Por isso os Kaingang, os Kamé e os Kaiurucré são parentes e amigos.
A convite de Bruno Müller, produzi a ilustração "A criação dos animais", minha interpretação da lenda Kaingang da criação dos animais.
Os textos e as pesquisas foram feitas por ele.
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A criação dos animais
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A criação dos animais

Adaptação da Lenda Kaingang da criação dos animais.

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