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A FÉ DE FRANCISCA


Uma grande homenagem em vida a benzedeira Francisca Correia da Costa, 104 anos, nascida na região de Lixeira, Lagoinha de Baixo, zona rural de Chapada dos Guimarães. Vó Francisca, mãe de 12 filhos, parteira
desde os seus 10 anos de idade, tem também um reconhecido trabalho na cura pela fé e pelas plantas do
cerrado. Sua humildade, pluralidade com a religião e seu altruísmo inspiram a todos. Um exemplo de vida e sabedoria,
captado pelo olhar artístico de Santian.


Oswaldo Carvalho Jr
Curador
 É da terra que vem a força...

O documentário audiovisual A Fé de Francisca, realizado durante a produção fotográfica é exibido na íntegra na exposição, revela um talento autodidata; Santian, em seu primeiro trabalho nessa linguagem, não seguiu roteiro e não dirigiu cenas. A partir de um processo criativo orgânico, evidencia o cotidiano de Francisca de maneira espontânea. A edição, na fase da montagem, foi feita em colaboração com seu amigo editor Marcelo Sant’anna. E isso é apenas o início. Agora com parceria da atriz Jenifer Costa, neta da própria Francisca, Santian pretende continuar a imersão no audiovisual. A dupla está produzindo o roteiro de um filme que contará com detalhes a história de vida da vó, interpretada por netas e bisnetas, aproveitando-se do acervo audiovisual que Santian captou durante os anos de convívio.
Em comemoração aos 105 anos de Francisca no dia 8 de Outubro 2018 Estela Ceregatti e John Stuart em seu show chamado AR, nos palcos do sesc arsenal em Cuiabá MT,
homenagearam A fé de Francisca, cantando a canção que compuseram para o documentário, nesta noite linda o palco ficou iluminado com as imagens de Francisca projetadas em vídeo mapping sobre os tecidos cenográficos do palco.

      
    
                                     Na terra que nascem as raízes, que mergulham as solas rachadas de vó Francisca, pra cá e pra lá em sua casa, pelos recônditos verdes do cerrado, diante do seu altar de muitos, santos e anjos.
 A benzedeira, raizeira e parteira, nascida em Lixeira, quilombo de Lagoinha de Baixo, zona rural de Chapada dos Guimarães, se dedica ao trabalho de cura desde os 10 anos de idade. Às vésperas de completar 105, segue incapaz de cessar a atividade que definiu sua rotina e configurou uma vida de dedicação ao outro. 
 É da sensibilidade da brisa morna que rodeia os pés da mesa, as cadeiras, que ronda as quinas das paredes e
 se debruça nos vãos das janelas pra observar a fumaça espiralada de um café que esfria, que nasce o trabalho de Henrique Santian.
 
O fotógrafo, amigo da vó, desenvolve um trabalho de imersão afetiva nascido da admiração: deixa que a personagem se mova através das lentes como se move pra catar um chinelo, pra separar o feijão do almoço, pra coçar os olhos. Benzendo, rezando, fumando seu cachimbo, olhando pra rua de sua poltrona.
 
A coreografia ensaiada pelo tempo veste um sorriso largo nessa mulher negra, quilombola, mãe de 12 filhos e madrinha de uma multidão de desconhecidos que buscam a intérprete de palavras e imagens de outra esfera, e sua bênção. Um vislumbre desse universo de devoção, um recorte de proximidade se desenha nas fotos e no documentário de Santian, espécie de altar afetivo a transportar vó Francisca e sua existência iluminada.

 

Henrique Santian materializa o altar afetivo de vó Francisca em lugares que suas pernas cansadas já não alcançam. Fincam-se desta vez os fundamentos na galeria do Sesc Arsenal, abrindo suas portas para uma trajetória de fé.

Altar “afetivo” não é à toa; afeto é palavra chave para desvendar a configuração que possibilita a exposição A Fé de Francisca e que preenche de uma energia irrecusável quem trava contato com a trajetória dessa anciã. É do afeto altruísta que nasce a disposição de ajudar sem pedir em troca, seja benzendo, trazendo crianças ao mundo ou preparando remédios caseiros, banhos e garrafadas por tantas décadas.
É do afeto que nasce a amizade, praticamente uma relação filial, entre Francisca e Santian. E é do afeto da estima e do reconhecimento que nasce a vontade de retratá-la
Francisca Correia da Costa, a vó Chica, descobriu ainda menina seus dons espirituais. Filha de mãe benzedeira, começou seus trabalhos em casa, sem que dona Maria soubesse, levando as crianças que acompanhavam os pais nas visitas para o quarto e benzendo-as de quebranto, arca caída, espinhela. Obedecia a algo que lhe vinha instintivamente. Foi num terreiro de umbanda de um compadre da mãe, durante a gira, que Francisca foi primeiro confrontada com a revelação do seu dom. Um caboclo incorporado pediu para conversar com uma “bacura” ali presente que andava curando e benzendo sem orientação. Com cerca de 10 anos, a menina relutou em se aproximar, mas uma vez identificada acabou cedendo, e diante do caboclo se acalmou. Foi ele quem lhe disse que não precisaria da gira;não precisaria incorporar para fazer o trabalho de cura, pois tinha o dom de nascença. E que seguiria fazendo-o até não poder mais. Dito e feito. Aos 104 anos, Francisca continua benzendo e curando aqueles que a buscam. Mas muito mudou nessas décadas, desde que aprendeu os trabalhos com os espíritos na casa da mãe. “Tudo que eu escutava, tudo que eu via, ficava escrito na minha cabeça como um livro, eu não esquecia de nada.” Casou-se jovem e criou 12 filhos, sempre ajudando na plantação de mandioca e feijão, no canavial, no alambique,enxada e foice na mão. Fazia o trabalho de cura nas horas vagas, em sua casa na Lixeira, quilombo da área rural de Lagoinha de Baixo. Parteira, ajudou mães a trazerem seus filhos ao mundo até alcançar os 80 anos, quando sentiu que as forças para essa empreitada já não eram suficientes. Os trabalhos de cura, contudo, continuaram. Desde que se mudou para o perímetro urbano de Chapada dos Guimarães, há algumas décadas, atende durante a semana, de manhã e à tarde. Se permite um descanso nos finais de semana, feriados, dias de velório e durante a quaresma. De uma religiosidade que transcende barreiras (seus primeiros passos foram na umbanda, deu passe em centro espírita, freqüenta a igreja católica sempre que pode), vó Francisca diz que “essa força quem me deu foi Deus”. Mesmo em idade avançada, já chegou a atender 50 pessoas em um único dia. Elas vêm de todos os lugares. E a vó nunca pede nada em troca. Vive do auxílio da família, dos amigos e das contribuições que lhe fazem os mais caridosos dentre os que atende. O cansaço físico e a tristeza da perda de pessoas próximas, algo previsível para alguém que atinge idade tão avançada, fizeram com que diversas vezes Francisca tentasse desistir. Mas ela diz que é incapaz de parar. “Eles não deixam”. Os espíritos, guias de luz, continuam guiando-a em suas preces, as mãos enrugadas juntas em oração constante.
Um sonho antigo, o de ter um altar de devoção repleto, semelhante ao altar iluminado que enxergou naquele terreiro de umbanda ainda criança, lhe foi possibilitado na velhice. É diante dele, na entrada da casa, que ela costuma benzer. E o olhar de Santian se debruça também sobre esse local consagrado. Entre castiçais e velas, se veem quadros e estatuetas de anjos da guarda, Pretos-Velhos, São Gonçalo, Cabocla Jurema, São Sebastião, Preto Escravatura, São Miguel, Zé Pelintra, São Francisco, Benedito, Cosme e Damião, Exu, Santo Antônio, São Miguel Arcanjo, Domingos Sávio, Nossas Senhoras Desatadora dos Nós, Aparecida e de Santana, Jesus e Maria.​​​​​​​


Santian afirma que é um trabalho de amor registrar a vida de uma pessoa tão especial. Da construção deste afeto, bebemos nós que, distantes da vó Francisca, acabamos tão próximos.

Santiago Santos
escritor, tradutor, jornalista tereréficionado. 
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O afeto da fé

Uma crônica de Anna Amelia Marimon

Sábado depois da friagem. Fim da tarde, boquinha da noite. Chego no jardim do Sesc Arsenal sob o encanto da voz clara de Estela Ceregatti acompanhada por John Stuart e seu contrabaixo mágico. Homenagem a Vó Francisca. No palco,  Bia Correa, poeta, com sua fala rouca anuncia a sequência das músicas. Vó Francisca está sendo agraciada pelos artistas que conhecem sua fé, que receberam suas bênçãos, e que agora devolvem um muito desse amor que Ela trouxe ao mundo como uma dádiva. 
Sim, um jovem chamado Santian, presenteou Vó Francisca com um evento único. A exposição de vídeo documentário e fotografias traz o registro da alma centenária de Francisca que por sua vez trouxe a nós uma fé incomum, doce, forte, poderosa. As apresentações se sucederam no palco que contou ainda com as presenças marcantes de Paulo Monarco e Jade Rainho, Cristopher Chaves e Marcelo Lins e a performance de Jaqueline Roque e Andreel Ferreira, Caio Mattoso e João Ninguém e Luciana Bonfim.
Depois que mergulhei na pequena procissão, que levava a bandeira de São Gonçalo o santo canoeiro, violeiro e São João, ao som da Charanga Rasqueada, fui envolvida no universo mítico e místico evocado pela Fé de Francisca.
 ​​​​​​​ Uma fé afetiva de amor incondicional pela humanidade. Esperei a pequena multidão que se aglomerou ao redor de Francisca, e que permaneceu muito tempo, se dispersar para me aproximar em busca de uma benção. A moça que cuidava do conforto de Francisca se desculpou. -“Ela está cansada, precisa encerrar, não vai atender mais ninguém. -“Eu sou ninguém “. Respondi baixinho.  -“Ninguém precisa tanto de uma benção como eu.” E me postei de joelhos frente a ela com a cabeça baixa, e ela me abençoou longamente, uma paz imensa aquietou meu espírito.  Nessa hora, senti um grande amor derramado sobre mim. Ela pegou carinhosamente minhas mãos espalmadas, e beijando-me na testa me devolveu ao mundo de alma lavada. Sai dali profundamente agradecida. Com as imagens daquela fé brilhando como velas acesas na memória. A performance da Pachamama as bonecas benzedeiras encantaram a todos finalizando as homenagens na galeria.



 

Gratidão a Santian que realizou essa obra,  grande homenagem, um evento emblemático, com as cores da fé registradas na sua fotografia poética. Gratidão a todos que levaram sua arte como benção a todos nós.
-“Deus te abençoe, Vó Francisca!”


A fé de Francisca 
de 9 de JUNHO a 30 de JULHO
 galeria do sesc arsenal em Cuiabá MT

Gostaria de agradecer a todos que de maneira direta ou indireta fizeram parte desta corrente de amor e fé.
Primeiramente a Francisca, Jenifer Costa, Deni Corrêa e toda a família Corrêa da Costa que sempre me apoiaram; meus pais Carlos Roberto Santian e Ana Maria Santian; meu irmão Luis Fernando Santian; Dona Ilka e sua família; a Monica Gheno e Maximiliano Leite; a Daniella Oliveira da sala da mulher e sua equipe
do teatro Zulmira Canavarros; a Assembléia Legislativa; ao meu curador Oswaldo de Carvalho Jr; escritor Santiago Santos; ao pessoal do SESC Arsenal Karina, Jorge, Neto, Rodrigo e toda equipe pelo convite e apoio com a exposição; 
ao Marcelo Almeida que me ajudou na edição e montagem do documentário audiovisual; aos músicos, Paulo Monarco e Jade Rainho, Cristopher Chaves e Marcelo Lins , Estela Ceregatti e Jhon  Stuart, Luciana Bonfim, João Ninguem e Caio Mattoso, que dedicaram seu tempo para compor as canções; a poetisa Bia Corrêa, aos dançarinos Jaqueline Roque e Andreel Ferreira; ao trio das bonecas benzedeiras Pachamama; ao grupo Charanga Rasqueada que me acompanharam com Francisca em um cortejo de abertura; a escritora Lívia Bertges; aos jornalistas e fotógrafos Juliano Lamb, Ju Segovia, Junior Silgueiro, Marcelo Almeida, Bruna Obadowski e Ahamad Jarrah (Alente), Annaamélia e Eduardo Ferreira (Cidadão Cultura), Lidiane Barros e toda mídia envolvida; Luiz Marchetti e todos os amigos que sempre prestigiaram meu trabalho. Agradeço de coração a todos vocês. Como diz Francisca a fé remove montanhas, juntos sempre.

SEMINÁRIO POLÍTICAS CULTURAIS: OS SABERES DE (R)EXISTÊNCIAS E OUTRAS PRÁTICAS DE CONHECIMENTO

PRÁTICAS E SABERES DO CUIDADO: O OLHAR PARA SI E PARA O OUTRO. 
            
22/02 de 2018 | 19h |  Teatro do Sesc Arsenal -- Cuiabá Mato Grosso.



ABERTURA DO SEMINÁRIO AO SOM DO GRUPO MARACATU BURITI NAGÔ 
No palco do teatro do Arsenal foi oficializada a abertura dessa edição do Seminário de Políticas Culturais, com a foto em destaque da homenageada: Dona Francisca, a benzedeira e parteira de 104 anos que ainda hoje pratica sua cura junto à comunidade em Chapada dos Guimarães. Compreensível que, a essa altura, as condições de sua viagem para Cuiabá não tivessem se alinhado. Mas ela esteve presente. O documentário “A Fé de Francisca”, de Henrique Santian, que ali a representou, foi exibido na íntegra ao fim da discussão e lançou um olhar aguçado sobre essa senhora em sua rotina, com declarações singelas numa voz pausada que emocionaram a plateia. O doc coroou um diálogo que trouxe à tona a temática central do evento: os saberes de resistência pela voz de seus praticantes.   


texto: Santiago Santos
escritor, tradutor, jornalista tereréficionado.

Instalação fotográfica A fé de Francisca compõe 8 fotos, em homenagem aos 104 anos, realizada com o poio do Museu Casa de Guimarães, no dia 28 de julho a 6 de agosto de 2017, durante o Festival de Inverno de Chapada dos Guimarães MT, foi montada em frente a Igreja Nossa Senhora de Santana.

A Fé de Francisca


 É uma grande homenagem em vida a benzedeira Francisca Correia da Costa, 104 anos, nascida na região de LIXEIRA, em Lagoinha de Baixo zona rural de Chapada dos Guimarães MT, Francisca mãe de 12 filhos, parteira desde os seus 10 anos de idade, quando descoberta seu dom com a benzeção iniciou seus ensinamentos com as raízes do cerrado, tendo então um reconhecido trabalho na cura pela fé e as raízes do cerrado, sua pluralidade com a religião e seu altruísmo, inspiram todos que há conhecem por sua humildade, que é exemplo de vida e sabedoria, seu cotidiano é captado pelo olhar artístico de Santian. 


texto: Oswaldo Carvalho Jr
curador da exposição, A fé de Francisca.
 
DEPOIMENTO DE FRANCISCA NA ABERTURA DA INSTALAÇÃO FOTOGRÁFICA 28 JULHO DE 2017.






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obrigado..!!
A FÉ DE FRANCISCA
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