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A IMAGEM DO LIVRO - LIVRO DE ARTISTA

A ARTE E A VIDA
A IMAGEM DO LIVRO – LIVRO DE ARTISTA
INTRODUÇÃO

Passamos agora à realização do terceiro e último trabalho a ser desenvolvido no âmbito da unidade curricular de meios digitais.
Na primeira proposta, de nome “A Imagem do Pensamento”, concebi um mapa conceptual/mental a partir do tema “O Homem, a Arte e o Mundo”. Este mapa funcionou como um esquema de articulação de ideias, termos e conceitos, que se relacionavam, não de forma única e hierárquica, mas de uma forma espontânea.
Na proposta seguinte, a partir deste mapa conceptual, desenvolvi um políptico, constituído por várias fotografias que espelhavam o meu conceito: “A Arte Enquanto Perceção do Mundo”.

Neste último projeto criei um pequeno livro. Um livro que não corresponde à ideia comum de livro, mas que o é, porque, de facto, nos conta uma história. Utilizando algum do material resultante dos dois projetos anteriores, em harmonia com novo material, explorei o mundo que houvera criado.
PROPOSTA E PROJETO

A terceira proposta, de que me ocuparei ao longo deste relatório, é designada pelo nome “A Imagem do Livro”. Se na proposta anterior concebi uma narrativa a partir de um conjunto de fotografias, que não estavam sujeitas a uma determinada ordem, criarei, agora, uma narrativa que, de facto, terá um princípio e um fim.
Utilizando elementos visuais e textuais construirei um livro que funciona como uma experiência visual, como uma exploração plástica de um tema. Assim, contarei uma história através de três diferentes meios.
PONTO DE PARTIDA:
CONSTRUÇÃO DE UMA LINHA DE PENSAMENTO

A primeira fase do projeto reside, então, em entender o que é um Livro de Artista. Para tal consultei vários Livros de Artistas, e, também, alguns livros sobre como construir um Livro de Artista.
O Livro de Artista é, para todo o efeito, um livro, mas que apresenta algumas características especiais. O Livro de Artista não conta necessariamente uma história, pode ou não conter texto, pode ter desenhos, fotografias, grafismos, objetos recolhidos, etc. Num Livro de Artista, o próprio livro, enquanto objeto, é um dos elementos que constrói a narrativa.
Assim sendo, podemos explorar o texto, a imagem, a textura, o volume e a própria encadernação. Este livro funciona como um suporte de experimentação e descoberta. Desta forma, este trabalho não apresenta uma componente conceptual tão forte, no sentido em que o tema que escolhi tratar é o tema que tratei já no projeto anterior. Este livro é uma outra forma, uma outra abordagem, ao mesmo conceito.

Optei, então, por utilizar como base um pequeno excerto. Em vez de utilizar pequenas citações para atribuir uma outra dimensão ao projeto, decidi utilizar o próprio texto como fio condutor. Contudo, não criei uma história ilustrada. O texto não desempenha, neste projeto, um papel principal. Existe ao mesmo nível que os outros elementos visuais. Desta forma, o texto é, também, uma forma de ilustrar um assunto, não mais relevante do que a fotografia ou o desenho. Todas estas três vertentes em que espelho o meu tema contribuem para a construção de uma forma de ver o mundo.
O nome do projeto é “A Arte e a Vida”. Diria que este título é, também ele, uma extensão do projeto anterior, denominado “A Arte Enquanto Perceção do Mundo”. Contudo, este último projeto é menos objetivo, vive da junção dos três elementos visuais que referi e não pede mais do que uma leitura pessoal do tema.

Comecei então por selecionar o excerto que pretendia utilizar. Percorri todos os livros que tinha lido nos últimos tempos à procura de uma passagem que tivesse marcado e que se relacionasse com aquilo que pretendia transmitir. O excerto pertence à obra “A Ilha de Sukkwan”, do escritor americano David Vann e diz o seguinte:

“O mundo no princípio era um campo enorme, e a Terra era plana. E todos os animais erravam pelo campo e não tinham nomes, e os que eram maiores comiam os mais pequenos, e ninguém se sentia mal com isso. Depois apareceu o homem nos confins do mundo, encurvado, peludo, estúpido e fraco, e multiplicou-se e tornou-se tão numerosos e retorcido e sanguinário com a inatividade que os confins do mundo começaram a deformar-se. Os confins dobraram-se e recurvaram-se lentamente, homens, mulheres e crianças esbracejando uns por cima dos outros para se manterem em cima do mundo e agarrando-se aos pelos das costas uns dos outros ao treparem até ficarem todos pelados e nus e enregelados e sanguinários e suspensos dos confins do mundo.
O pai fez uma pausa, e Roy disse: E depois?
Com o tempo, os confins acabaram por se tocar. Recurvaram-se até se juntarem todos e formarem o globo, e o peso que isso fez pôs o mundo a girar e os homens e os animais pararam de cair. E então o homem olhou para o homem, e como éramos todos tão feios sem pelos e os nossos bebés parecidos com escaravelhos da batata, o homem dispersou-se e desatou a matar e a usar as peles mais decentes dos animais.
Ah, disse Roy. Mas depois?
Depois tudo se torna complicado de mais para contar. Houve uma altura qualquer em que surgiu o sentimento de culpa, e o divórcio, e o dinheiro, e o IRS, e foi tudo por água abaixo.
Achas que foi tudo por água abaixo quando te casaste com a mamã?”

(David Vann, A Ilha de Sukkwan, pág. 11-12)

Contudo, fiz algumas pequenas modificações ao texto original, omitindo certas palavras e sinais de pontuação. A razão pela qual o fiz diz respeito a questões de organização do espaço e de enquadramento dos elementos nas páginas.  
De seguida,  a partir deste excerto criei alguns desenhos/colagens em que utilizei elementos pertencentes às fotografias do projeto anterior, juntamente com alguns recortes de jornal e tinta preta.
De seguida, procurei articular o texto, as ilustrações (digitalizadas) e as fotografias de uma forma que me parecesse dinâmica e que criasse uma certa narrativa.
Utilizei o programa InDesign para paginar o livro. Optei por um formato quadrado que me permitisse utilizar uma área relativamente pequena, usando só uma página, ou estender o conteúdo ao longo das duas páginas.
Em vez de usar uma encadernação comum, optei por construir um esquema de leque que permitisse, através de dobragens, ver o livro em conjuntos de duas páginas, mas também dispo-lo sob a forma de uma enorme tira de papel. 
Esta solução interessou-me, pois, permite ter noção de toda a linha de pensamento que é criada pela narrativa e criar um friso que funciona também como uma só imagem. 

Para poder criar este efeito tive de criar quatro tiras de 20 cm x 140 cm onde dispus, em cada uma, seis páginas, mais um excedente que me permitisse unir, posteriormente, as tiras. 
De seguida, dispus todas as quatro tiras numa só página com um formato de 80 cm x 140 cm, que me permitisse imprimir tudo de uma só vez. 
Tendo este documento impresso (optei por um papel fotográfico com brilho e com 190 gramas) seguiu-se apenas cortar as quatro tiras, dobrá-las e colá-las no seguimento umas das outras. 

Para a capa e a contracapa utilizei cartão prensado, atribuindo alguma rigidez ao livro, e revesti-o com uma fotografia que tirei a um pedaço de pele de porco; dando, assim, continuação ao conteúdo do livro. Desta forma, a capa é, também, parte do conteúdo.
Optei por não colocar qualquer tipo de título ou identificação na capa com o intuito de fazer o trabalho falar por si. Não há título possível para este trabalho, é aquilo que é, é aquilo que cada um entender que é. 
PRODUTO FINAL: O LIVRO DE ARTISTA

Após ter todos os elementos constituintes do livro prontos necessitei apenas de montá-los, dando assim origem ao meu Livro de Artista. ​​​​​​​​​​​​​​
REFERÊNCIAS

Para as fotografias (concebidas na proposta anterior) inspirei-me na obra do fotógrafo Robert Mapplethorpe. Já para as ilustrações tive como referência a obra do artista Gemeo Luis que cria as suas obras através de recortes de pequenas silhuetas em cartolina, e, também, alguns trabalhos mais antigos da pintora Paula Rega, nos quais cria personagens animalescas com fortes contornos a negro.
Fotografias de Robert Mapplethorpe
Silhuetas recortadas da autoria do ilustrador Gemeo Luis e quadros de Paula Rego
CONCLUSÃO

Creio que ao longo das três propostas existiu uma evolução, no sentido em que existe um fio condutor que se desenrola até este último trabalho. Se no primeiro trabalho (mapa mental) ainda não existe uma linguagem plástica que se espelhe nos trabalhos seguintes, existe já uma linha de pensamento, uma ideia geral que cria a discussão que serve de alicerce para os restantes projetos. Já no segundo trabalho, com a execução do políptico, criei uma linguagem visual muito própria, marcada por um certo dramatismo e alguma polémica. 
Este último projeto é como uma reunião de todo o material até agora criado, ao qual se acrescentam, ainda, novas reflexões e opções plásticas. 
Julgo que o produto final é coerente e, mais do que uma simples história ilustrada, é um conjunto de pensamentos, de diferentes origens, referentes a um mesmo tema que considero essencial.
A IMAGEM DO LIVRO - LIVRO DE ARTISTA
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