Juarez Parolin's profile

Um Criminoso Mirim


E o primeiro texto de 2024 é uma história absurda de infância que eu adoro contar para as pessoas sempre que tenho a oportunidade. Agora, nada mais justo do que compartilhar com vocês sobre esse dia, que provavelmente conto pela milésima vez na minha vida. Mas isso não é um problema; eu gosto muito de contar essa história repetidas vezes.

Isso aconteceu em 2005, quando eu tinha míseros dez anos de idade. Durante a minha infância, eu tinha um programa muito simples, porém muito satisfatório e legal com o meu pai: todos os fins de semana, eu o acompanhava até o banco, e depois íamos comprar jogos piratas de Playstation 1 - o famoso três por dez - em uma lojinha no centro de Santo André. A história absurda aconteceu na ida ao banco e nem consegui ser feliz comprando os meus jogos.

Enquanto meu pai ficava no caixa eletrônico, eu perambulava pelo banco tentando me divertir já que ficar ali esperando meu pai não era muito divertido. O que eu mais gostava de fazer no banco era mexer nos cadeados. Eram daqueles que você tinha que fazer a combinação de números para abrir. Eu, obviamente, não tinha pretensão nenhuma de um dia conseguir abri-los, apenas gostava de girar os números aleatoriamente porque achava legal e satisfatório. Mas eis que a tragédia aconteceu.

Num desses momentos, mudei dois números do cadeado, um 1 e um 4. Impossível esquecer. Ao colocar esses números, o caixa eletrônico abriu, e o alarme do banco começou a tocar. Alto pra caramba. Fiquei branco, pálido, sem piscar ou me mexer. Meu pai, concentrado no caixa, continuou sem se importar. O outro cliente que estava no banco usando o caixa notou o alarme, comentou alguma coisa a respeito com meu pai, que achou ser acidental. Os dois basicamente nem se importaram enquanto eu estava quase tendo um infarto precoce.

Depois que meu pai terminou, fomos embora comprar jogos, mas eu já não queria mais. Os ânimos tinham ido embora. Eu achava que a polícia ia me rastrear e que eu seria preso no mesmo dia. Na loja, meu pai comprou os jogos que eu tinha escolhido, mas eu não estava animado como eu sempre ficava. No caminho de volta, meu pai perguntou se eu estava bem, e menti que sim. Obviamente, não estava. Na minha cabeça, já imaginava minha vida na prisão e a ruína da minha família inteira por causa de uma besteira minha.

Em casa, andava ansioso, com dor de barriga. Precisava contar a alguém sobre o ocorrido para aliviar a consciência. Meu pai estava saindo para tomar uma cerveja onde ele sempre ia, mas fui até o portão antes de ele sair e, chorando muito, contei que tinha disparado o alarme ao abrir o caixa sem querer e eu estava com muito medo de ir para a  prisão. A reação dele? Ele riu muito. Tipo, riu horrores. Só faltou ele apontar o dedo na minha cara e chamar todos os vizinhos para rirem com ele. Fiquei sem entender, mas ele, sorrindo muito, assegurou que nada aconteceria. Ele saiu tranquilamente para aproveitar sua cerveja com amigos enquanto eu fiquei parado igual um idiota no quintal de casa processando a informação.

Mais tarde, meu pai contou para minha mãe, que também riu. Minha irmã foi a que mais riu da minha cara. Apesar de ser muito desagradável ter pessoas rindo da sua cara, nesse dia eu gostei que fui motivo de piada porque foram essas risadas que anularam qualquer possibilidade de prisão, mostrando que as coisas ficariam bem e que tudo não havia passado de um acidente causado por uma criança ingênua. Apesar de tudo o que aconteceu ter sido extremamente inofensivo, sempre penso nesse dia, imaginando como seria se eu tivesse pegado um pouco de dinheiro de dentro do caixa.
Como eu não tenho foto desse exato dia fatídico, aqui está um registro do mesmo ano em que o crime ocorreu. Olha só que bela dupla dinâmica!!
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