É o meu projeto de conclusão do curso bacharel em Comunicação Visual Design, na UFRJ. Foi um projeto extremamente pessoal, onde trabalhei a diagramação de um livro que contém fotos e poemas, também criados por mim.

No passado, a fotografia analógica era a mais comum e conforme a tecnologia foi evoluindo, a fotografia digital foi tomando seu lugar. Perdemos o hábito de revelar e ter as fotos acessíveis de forma física.

Com isso, muitas memórias se perderam pela obsolescência das formas de armazenamento digitais. Ocorreu, de certa forma, um “apagamento".

Assim como o Alzheimer tem a capacidade de roubar uma pessoa de si mesma, pois, furta dela noções básicas, deteriorando seu entendimento da realidade, estamos sujeitos a gradativamente esquecer nossa história.

Precisamos, na medida do possível, zelar para que a Era Digital não nos roube de nós mesmos o afeto e as marcas que registram o passado para construir o futuro. 

Trazer reflexões sobre a vida, tempo, espaço e outras questões existenciais, de uma perspectiva afetiva. Mesmo que tenha partido de crises e indagações pessoais, acredito que são assuntos pertinentes para qualquer ser humano. E de alguma forma, nossa finitude e miserabilidade nos agonia em maior ou menor instância.

Não tenho a intenção de trazer respostas, já que estas nem eu mesma tenho. Apenas de somar perguntas de forma leve e sensível.

Pessoalmente, o projeto tem valor intimamente ligado à minha aptidão e gosto pela fotografia e a particularidade de honrar a memória dos meus avós paternos Alexandrina e Américo, que faleceram de Alzheimer, bem como a vida do meu avô materno Élio, que se encontra com 96 anos e também diagnosticado com a doença.

Através da criação de um livro-poema, é levantado o questionamento da literalidade da memória enquanto física e o poder de um objeto ao eternizar essas lembranças.

Ainda que ter um álbum de fotografias não seja uma garantia de que tudo seja eterno, este artefato se torna um compromisso material de veracidade que aquele momento e/ou pessoa existiu. É um memorial, um marco da realidade.


[O conceito]

Pessoas se conectam com pessoas. E eu me identifico mais com histórias sendo contadas por pessoas também.

Quis retratar elementos diversos para contar a história não de uma pessoa específica, mas abranger o ser humano como um todo. Partir da pessoalidade da minha relação com cada indivíduo fotografado, para acolher  a todos que se sentirem tocados ou representados por estas reflexões.

[Os poemas]

Desde que me lembro, gosto de escrever. Me ajuda muito a organizar as ideias e acredito que consigo me expressar de forma mais clara. Pelo caráter extremamente emocional que esse projeto carrega, me pareceu fazer muito sentido ter os poemas como complemento das imagens. Assim, o que as imagens não puderem dizer, as palavras conseguem gritar. Ou vice-versa.