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PROJECTO E FOTOGRAFIA DE AUTOR | CPF IPF

                 projecto e fotografia de autor.
No âmbito da disciplina de Projecto e Fotografia de Autor. 2º ano do Curso Profissional de Fotografia no IPF, Lisboa. 
Formador: Alexandre Almeida.
borderline.
trabalho final

Nada se perde. Nada se cria. E, talvez por isso mesmo, criar algo a partir de nada é, para mim, um processo moroso e desgastante. Pelo peso da consciência, pelo esforço de encaixar e sobrepor os vários pedaços da minha vida que já confessei outrora ter de fazer coexistir e, claro está, pela formatação de três décadas de objectividade em quase tudo o que enche os dias.
Em jeito de confissão e algo que nunca seria escrito noutro contexto, ainda tenho dúvidas sobre algumas coisas. Sobre algumas escolhas. E espero ter sempre. Espero que seja isso a dar-me a capacidade de me continuar a desafiar a fazer mais. A fazer diferente. A ser diferente. A ser melhor. Ou, tanto mais não seja, a ser o que sou. Mesmo que, para isso, tenha de sobrepor tantas coisas na minha vida; tantas que acabe por perder a capacidade de distinguir onde cada uma delas começa e acaba.
E essa tem sido, sem sombra de dúvidas, a maior dúvida: até quando vou conseguir sobrepor duas realidades tão diferentes? Ou, posto de outra forma, até quando é que o vou querer fazer? E, em mais um desabafo desleixado, é algo que me tem ocupado demasiado tempo a mente. 
Quero com este trabalho ainda sem título poder observar e registar… o que for. Não tenho, para já, grandes objeções ao que se coloque diante dos meus olhos. Não quero só olhar. Quero ver. Quero ter de pensar nas coisas. Como se sobrepor o que se dispõe ao meu olhar me libertasse de pensar em como sobrepor a minha própria vida sobre ela própria. 
Perdoem-me a informalidade, mas não sou grande coisa a criar o que quer que seja. Mesmo sabendo que nada se cria. E que nada se perde. Mas tudo se transforma. 

Até eu próprio.

carta de motivação, prévia ao projecto.

S/ título #0439. Monsanto, 2023
S/ título #0371. Monsanto, 2023
S/ título #0349. Costa da Caparica, 2023
S/ título #0217. Costa da Caparica, 2023
S/ título #0367. Costa da Caparica, 2023
S/ título #0118. Santa Iria, Loures, 2023
Todas estas coisas são quase desabafos crus e silenciosos de uma exaustão da qual, provavelmente, não me saberia dissociar. Não acho, genuinamente, que tenha assim tanto jeito para criar o que quer que seja. Mesmo sabendo que nada se cria. Nem nada se perde. Se assim é, estarei eu a perder alguma coisa neste ritmo frenético? Talvez sim, talvez não. As dúvidas de que tenho vindo a falar vivem no limite da certeza de que as quero esclarecer à força da prova. E eu não tento ajustar-me parcialmente a nenhuma das coisas que são consequência das três décadas que me trouxeram a este ponto. Faço-o. Tem de ser feito. Não me reparto. Não me divido. Vivo na certeza de pertencer a todas estas personagens. A todas estas facetas. É isso que eu sou. E o meu limite é nada mais do que não saber deixar de o fazer. 
Borderline não é, por definição, mais do que isso. A condição de estar em simultâneo no limite entre duas situações ou possibilidades. E com a possibilidade também de pertencer a qualquer uma delas. Como que um limite existente, mas sem grandes efeitos práticos. Uma fronteira aberta, com livre trânsito entre todas estas diferentes versões do que sou. E a todas as formas que tenho de ver a mesma coisa em virtude disso mesmo.
Este trabalho será, até hoje, o maior rasgo de expressão pessoal que faço. De longe. Ao abdicar da possibilidade de fazer um trabalho com uma visão mais directa sobre um qualquer outro assunto, forço-me a olhar para dentro. A lidar com a minha própria forma de estar perante o Mundo, perante a vida, perante os outros. Perante mim próprio. Isto conjuga-se com uma transição pessoal a vários níveis: pessoal, académica, profissional, familiar.  E servirá, aparte de tudo o resto, como esclarecimento para mim próprio. E, talvez, esteja aqui o cunho pessoal para ver este projecto como meu. Tal como queria no início. 
Expor à minha maneira todas estas sensações sobre a minha vida no geral pode ser uma forma subtil de criar algo, mesmo quando sei que nada se cria. Mas que também nada se perde. E em todo este processo de transformação na minha vida, também eu me transformo. Não quero ver sempre o Mundo desta forma. Não o quero tornar estático, mas lento que baste para ter nitidez nos meus dias. Naqueles que estão à minha volta. Em mim próprio.
Provavelmente vou sempre fazer parte de várias realidades. Várias personagens a nível pessoal e profissional. E, tanto quanto possa, hei-de bambolear entre todas elas como se não existisse qualquer limite entre elas. Na verdade, será que existe? Tudo se transforma. Até eu.
As vezes que forem precisas.
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