O projeto Livro de Barro começa na disciplina de Projeto 2, a qual é vinculada ao Varal - Laboratório de Design Social da UFC, que possuía atividades no Projeto Moita Redonda, comunidade artesã do barro em Cascavel, Ceará. A tradição foi um dos principais problemas encontrados na comunidade, no sentido em que há pouca integração enquanto grupo e, consequentemente, pouca atenção aos elementos tradicionais.

No intuito de apresentar narrativas locais e instigar curiosidade sobre a tradição da comunidade, o livro foi resultado da disciplina e contou com a cocriação das crianças da Escola Pública Municipal de Moita Redonda, que ilustraram com o próprio barro o cotidiano delas.

Posteriormente o Livro de Barro foi agregado ao Varal como ação de extensão e pesquisa e sua continuidade permitiu a concepção do jogo, que expande a experiência do livro ao conduzir uma jornada por Moita Redonda sob uma nova perspectiva, mantendo ainda aspectos tradicionais e processuais do projeto Livro de Barro.

Como foi primeiro a ser conceituado (desde 2019 em disciplina e tendo avanços na extensão em 2020), o esforço foi focado em finalizar o que já havíamos esquematizado. Com a proporção que o projeto teve, foram discutidos mecanismos que ainda não haviam sido pensados (pop-up), mas conseguimos chegar num ponto em que houve coerência com aspectos de outros produtos (que possuíam mecanismos de abertura/desdobramento). 

Materializar o livro “O Cajueiro das Almas” exigiu bastante testes e ajustes à medida que cada etapa se concluía. Os testes de impressão foram cruciais para entender como a linguagem do livro se estabelecia no material impresso, ao mesmo tempo que era ali onde víamos erros e acertos. Nesse meio tempo foi onde testamos diferentes gramaturas, papéis, acabamentos em brilho ou fosco e conseguimos chegar em uma escolha de materiais mais precisa. 

Durante o processo, pensamos que a capa poderia ter mais impacto com o complemento da jaqueta, que dá mais espaço para a ilustração do pássaro e implementa a textura do kraft, dando materialidade à conceituação da própria linguagem visual do livro. A primeira prova feita contribuiu para que o processo de produção gráfica pudesse ser melhor realizado. Nesse contexto, pudemos entender como seria a encadernação e como esta afetava os próprios spreads, além de que a prova era a materialização mais próxima do protótipo final, que enviaríamos para exposição. 

Dessa forma, já era mais fácil a visualização de como o livro seria em sua primeira versão. Sem dúvidas, no processo de produção e na execução final do projeto, tivemos alguns problemas como erros no fechamento dos arquivos para impressão, dificuldades na aplicação de pop-up e acabamentos inviáveis de serem aplicados, devido ao pouco tempo restante para o envio do protótipo. Sabemos que esses são alguns dos pontos que devem ser melhorados em futuras materializações do livro. Com isso, acompanhar a construção da narrativa do cajueiro em conjunto aos desenhos de barro das crianças foi uma das partes mais legais do processo, além de perceber o apoio e acolhimento da comunidade com o projeto.

O jogo, da forma como havia sido submetido, necessitava de melhor trabalho de seus mecanismos, mas que ainda mantivesse a essência alinhada ao universo da narrativa (isto é, possuir um gênero mais de suspense/mistério). Essa reestruturação conceitual causou a mudança da construção de componentes já apresentados (como o tabuleiro, que deixa de fazer parte da embalagem para ser um componente à parte). 

Ao longo dessa reformulação, definir as materialidades foi difícil por precisar levar em consideração a jogabilidade (coesão com as funções do jogo), a ergonomia ao usuário (devido ao público alvo infantojuvenil) e durabilidade dos componentes. Nesse contexto, a prototipagem foi fundamental para avaliar esses aspectos. A qualidade dos protótipos realizados pela oficina digital na impressão 3D da universidade quase define os materiais poliméricos como finais aos produtos, mas depois de ponderações e conversas de orientação decidimos materiais mais naturais e de fabricação mais artesanal. Ainda assim, a fabricação digital auxiliou em pontos menos visíveis do projeto, como na produção de carimbos para marcação do selo na embalagem e na jaqueta do livro.

O resultado final revela n’O Mistério do Barro o cuidado em alinhar as texturas utilizadas nos componentes físicos, que possuem mais características “de produto” - tabuleiro e divisórias, pincel e disco -, e nos componentes mais gráficos - cartas e manual de regras.

O funcionamento do jogo precisa ser avaliado após mais pessoas entrarem em contato com ele, mas entendemos que o desenvolvimento desse tipo de produto demanda uma fase de testes mais longa que o período que nos foi dado. Ainda assim tem seu núcleo extremamente rico por trabalhar com o barro num contexto não frequente, mas com o intuito de reapresentar alguns aspectos da comunidade e proporcionar uma participação ativa na construção de narrativas voltadas à Moita Redonda.