Y 2020
CITY BITES
Porque da cidade se volta sempre com alguma coisa, vivências, alegrias, fúrias, ensinamentos, pedaços... Essa é a mesma cidade que também “morde”, deixa
em quem nela vive uma marca. Ela não é apenas uma aglomerado de betão, é também um ser vivo, um animal selvagem urbano que é preciso aprender a domar.
em quem nela vive uma marca. Ela não é apenas uma aglomerado de betão, é também um ser vivo, um animal selvagem urbano que é preciso aprender a domar.
Se por alguma razão a cidade te morder, morde de volta.
Durante uma visita a casa dos meus avós maternos, onde fora fazer algumas obras de manutenção, deparei-me com um achado peculiar; estavam empilhados num sótão escuro umas boas dezenas de placas em aglomerado marítimo, toscamente cortadas em formato quadrado, estavam muito sujas, mas por baixo da fuligem superficial, notava-se que tinham umas inscrições pintadas e umas quantas datas e códigos marcados com stencil. Dava para antever uma superfície com uma grande riqueza gráfica e com bastante potencial, o que só por sí cativou a minha curiosidade. Consegui obter a informação que as placas tinham sido trazidas pelo meu avô da tabaqueira onde trabalhou em 1960. Essas peças eram parte dos contentores intercontinentais que transportavam tabaco, e foi a partir delas que ele recortou estes painéis que serviram para várias construções ao longo da sua vida, inclusivamente, foram utilizados para construir parte da sua primeira habitação familiar, onde nasceu a minha mãe e os seus irmãos, isto levou-me a refletir sobre quão modesta seria a sua vivência naquela época e também a ficar com a vontade de preservar e dar uma segunda vida a esses pedaços da história familiar, decidi levar algumas para o atelier, limpei-as bem e comecei a imaginar o que poderia ser feito. Vieram a revelar-se os suportes ideais para construir uma coleção de obras gráficas. A estas obras chamei de City Bites, são pedaços da cidade, re-interpretações do imaginário visual que encontro ao passear pela urbe. Os sinais, os cartazes, as letras, os graffitis, os anúncios, as montras, os jornais e as pessoas que nessa cidade habitam. Tudo é observado e absorvido, interpretado, e transformado nestes quadros, nos quais utilizo diversas técnicas, mas sobretudo colagem e pastel. Combino diversos elementos, sobretudo fotografias, pedaços de cartazes, diversos stickers e lettering de várias proveniências.
Artworks featured in Merge - The Social Magazine, Edition #5, September 2020
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