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Análise: A Psicanálise dos Contos de Fadas

OS CONTOS DE FADAS: VALORES, SIMBOLISMOS E A PSICANÁLISE
Surgidos em sua maioria durante a Idade Média, os contos de fadas inicialmente não foram concebidos para o entretenimento infantil, já que todo o conceito de infância só foi introduzido na sociedade muito tempo depois – as crianças estavam amplamente inseridas no mundo dos adultos até então. As estórias eram contadas em reuniões sociais, entre adultos, e traziam fortes doses de moralidade. O autor de “Capinha Vermelha” – conto atualmente conhecido como “Chapeuzinho Vermelho” – Charles Perrault, por exemplo, trazia uma lição de moral específica em cada um de seus contos. Em “Capinha Vermelha” Perrault usa metáforas óbvias, fazendo alusão à sexualidade da menina que usava uma capinha vermelha com chapéu e deixando pouco à imaginação do ouvinte. Já na versão dos Irmãos Grimm, a estória é recontada e têm o nome de “Chapeuzinho Vermelho”, devido ao chapeuzinho vermelho que a menina ganhara da avó e usava sempre. Os Irmãos Grimm contam esta estória com um maior desenvolvimento de simbolismos, focando na heroína resolvendo seus conflitos internos e externos, terminando a estória com uma maior compreensão de si mesma em vez de uma moral pronta. 
Em “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, Bruno Bettelheim discute como os contos de fadas podem intervir nos processos evolutivos da criança, ajudando-a a resolver seus conflitos internos de forma saudável: “As mesmas constelações básicas que aparecem no desenvolvimento de cada pessoa podem levar às personalidades e destinos humanos mais diversos, dependendo de outras experiências do indivíduo e de como ela as interprete para si próprio. Da mesma forma, um número limitado de temas básicos retratam nas estórias de fadas, aspectos muito diferentes da experiência humana. Tudo depende da forma da elaboração do tema e do contexto que ocorra” […] “'Chapeuzinho Vermelho' aborda alguns problemas cruciais que a menina em idade escolar tem de solucionar quando as ligações edípicas persistem no inconsciente, o que pode lavá-la a expor-se perigosamente a possíveis seduções” (p. 206). 
Bettelheim, em seu texto, enfoca que os contos de fadas devem ser encarados como relatos simbólicos de experiências de vida cruciais. Através dos contos, as crianças podem encontrar ajuda para enfrentar as obscuridades do mundo, refletindo e conhecendo comportamentos humanos e sociais de forma não-agressiva. “Chapeuzinho Vermelho”, por exemplo, fala de paixões humanas, voracidade oral, agressão e desejos sexuais pubertais. Obviamente, o indivíduo só será capaz de atingir o desenvolvimento de novos aspectos de compreensão através de seu amadurecimento, influenciado diretamente pelo contexto social em que está inserido e pelas condições de desenvolvimento intelectual a que ele está exposto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
Perrault, Charles. Contos de Perrault. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997.



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